quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Neste Carnaval, apenas...

Foto do quadro originalmente escrito por Thich Nhat Hanh para a Sangha Plena Consciência - o original encontra-se exposto em nossa sala de meditação

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Conhecendo as Escolas Budistas

Conforme se espalhou pela Ásia ao longo dos séculos, a comunidade buddhista — a Sangha — adaptou-se às necessidades locais e fez surgir diversas tradições, ou escolas. Todas as tradições autênticas possuem um núcleo comum de ensinamentos, como as quatro nobres verdades, o nobre caminho óctuplo etc. Cada escola enfatiza determinados aspectos e práticas do ensinamento buddhista. Conhecendo as diversas tradições, também podemos apreciar um pouco das belíssimas culturas orientais. No sul e sudeste asiático, a tradição predominante é a Theravada. Na China, na Coréia, no Japão e no Vietnã, desenvolveu-se o grande veículo ou Mahayana, cujas vertentes mais conhecidas são a escola Zen e a escola Terra Pura. Já no Tibet, Nepal, Mongólia e outras regiões próximas ao Himalaya, o buddhismo tântrico ou Vajrayana fez surgir quatro escolas — Nyingma, Kagyü, Sakya e Gelug.

Leia, abaixo, um pouco mais sobre cada uma dessas Escolas, lembrando que a tradição do nosso Mestre está mais vinculada à Escola Zen - uma das principais tradições do buddhismo Mahāyāna

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Ch’an / Zen
A escola Zen é uma das principais tradições do buddhismo Mahāyāna ou Grande Veículo. Seus ensinamentos enfatizam a meditação sentada e o uso de paradoxos para revelar nossa verdadeira natureza.O Zen teve um papel fundamental para a formação da cultura, filosofia e religiosidade do extremo oriente, especialmente na China, na Coréia, no Japão e no Vietnã.
Etimologia: em sânscrito, uma antiga língua indiana, Dhyāna signfica Meditação. Em chinês, esta palavra foi traduzida como Ch'an, em japonês como Zen, em coreano como Sŏn e em vietnamita como Thiền.

Theravāda
A escola Theravāda é a tradição buddhista mais antiga ainda presente nos dias de hoje. Seus ensinamentos de meditação são baseados em uma grande coleção de textos escritos em pāli, um antigo idioma indiano.Esta escola é predominante nos países do sul e sudeste asiático (Myanmar, Śrī Lańkā, Camboja, Thailândia e Laos).
Etimologia: em pāli, uma antiga língua indiana, a palavra Theravāda signfica Ensinamento dos Antigos. Os seguidores desta escola são chamados theravādins.

Terra Pura
As escolas Terra Pura estão entre as principais tradições do buddhismo Mahāyāna ou Grande Veículo. O foco de suas práticas é a recitação do nome de Amitābha, o Buddha da Vida e Luz Infinitas.Estas escolas são as tradições buddhistas mais populares no extremo oriente. Na China, o buddhismo Terra Pura fundiu-se com a escola Ch'an. No Japão, o buddhismo Terra Pura tem duas escolas principais, Jōdo e Jōdo Shin.
Etimologia: em sânscrito, uma antiga língua indiana, a expressão Kşetra Śuddhi significa Terra Pura ou Campo Puro. Em chinês, esta expressão foi traduzida como Ching-t'u e em japonês como Jōdo.

Budismo Tibetano
O buddhismo tântrico ou Vajrayāna é a tradição buddhista predominante no Tibet, Nepal, Butão, Mongólia e norte da Índia. Suas práticas enfatizam o uso de visualização, recitação e meditação.O buddhismo tibetano possuiu quatro escolas — Nyingma, Kagyü, Sakya e Gelug. O Vajrayāna também foi influente na China e no Japão através de duas escolas, a Mi-tsung/Shingon e a T'ien-t'ai/Tendai.
Etimologia: em sânscrito, uma antiga língua indiana, Vajrayāna signfica Veículo Adamantino ou Indestrutível. No Japão, o buddhismo esotérico é conhecido como Mikkyō ou Ensinamento Secreto.


Fonte: http://www.dharmanet.com.br

Exercícios para Alertar a Mente

"Apresentamos a seguir alguns exercícios adaptados de vários métodos para atender às minhas condições e preferências, os quais tenho usado com frequência. Selecione os que mais gosta e mais se adaptem a você. O valor de cada método varia de acordo com a necessidade de cada pessoa. Esses exercícios, embora relativamente fáceis, constituem a base sobre a qual tudo o mais é construido. " (Thich Nhat Hanh - Para Viver em Paz - O Milagre da Mente Alerta)

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1. Leve sorriso
a-) Sorria levemente ao abrir os olhos de manhã: Pendure no teto ou na parede algum objeto ou mesmo a palavra “sorria” que você possa ver ao despertar. Servir-lhe-á de lembrete. Use os momentos antes de se levantar da cama para exercer o controle da respiração. Inspire e expire três vezes, suavemente, mantendo leve sorriso. Siga sua respiração.
b-) Leve sorriso quando está irritado: Quando se der conta de que está irritado, sorria imediatamente. Inspire e expire calmamente, sempre levemente sorrindo, por três minutos.

2. Relaxando
a-) Relaxando em posição deitada: Deite-se de costas sobre uma superfície plana, sem usar colchão ou travesseiro. Estenda os braços ao lado, à vontade, e as pernas ligeiramente afastadas. Mantenha leve sorriso. Focalize a atenção na respiração, inspirando e expirando suavemente. Solte todos os músculos do corpo. Relaxe cada músculo até senti-lo como se estivesse afundando no chão, ou como se fosse uma tira de seda macia pendurada a secar na brisa. Solte-se inteiramente, mantendo a atenção na respiração e no leve sorriso. Imagine-se como um gato, relaxadamente estendido diante do calor do fogo, cujos músculos cedem sem resistência ao toque de qualquer pessoa. Continue assim pelo menos por quinze respirações.
b-) Relaxando sentado: Sente-se em lótus completo ou meio lótus, ou apoiando o corpo sobre as pernas dobradas (posição japonesa) ou mesmo numa cadeira, com os pés tocando o chão. Inspire e expire mantendo leve sorriso. Solte-se como se indica no item anterior.

3. Respiração
a-) Respiração profunda: Deite-se de costas. Respire regularmente prestando atenção ao movimento do estômago. Ao inspirar, deixe que seu estômago levante para trazer ar à parte baixa dos pulmões. À medida que a parte superior de seus pulmões começa a se encher de ar, seu peito começa a levantar e o estômago a baixar novamente. Continue assim por dez respirações. A expiração será mais longa do que a inspiração. Não se fatigue.

4. Contemplação da interdependência
a-) Contemplação dos cinco agregados: Pegue uma foto sua de quando era criança. Sente-se em lótus completo ou meio lótus. Comece a seguir sua respiração conforme se indica no item 3.a. Após vinte minutos, focalize sua atenção na foto à sua frente. Recrie e reviva os cinco agregados dos quais você era feito ao tempo da foto: a característica física do seu corpo, seus sentimentos, percepções, funcionamento mental e consciência daquela idade. Continue a seguir sua respiração. Não deixe que as lembranças o levem para longe nem que o dominem. Permaneça nessa contemplação por quinze minutos, mantendo o leve sorriso. Direcione então sua mente para o seu eu presente. Esteja consciente de seu corpo, sentimentos, percepções, funcionamento mental e consciência deste momento. Veja os cinco agregados que o compõem presentemente. Faça a pergunta: “Quem sou eu?” A pergunta deve estar profundamente enraizada em você, como semente nova aninhada no fundo da terra revolvida. “Quem sou eu?” não deve ser uma pergunta abstrata a ser considerada com seu intelecto discursivo. Ela não dever ser confinada ao seu intelecto, mas ser posta à luz dos cinco agregados. Não procure encontrar uma resposta racional. Contemple por dez minutos, mantendo respiração leve, mas profunda, para impedir que seja levado por reflexões filosóficas.
b-) Contemplação de si mesmo: Sente-se na penumbra do quarto, ou à beira de um rio à noite, ou em qualquer outro lugar solitário. Começa a controlar a respiração (3.a.). Faça brotar o pensamento: “Vou usar meu dedo indicador para apontar a mim mesmo”, e então, ao invés de apontar para seu corpo, aponte-o para diante de si. Contemple vendo-se a si mesmo, fora de sua forma física. Contemple vendo-se nas árvores, na relva, nas folhas, no rio. Esteja cônscio de que você está no universo e o universo está em você: se o universo é, você é, se você é, o universo é. Não há nascimento. Não há morte. Não há vir. Não há chegar. Não há partir. Mantenha leve sorriso. Controle a respiração. Contemple por dez ou vinte minutos.
c-) Contemplação do esqueleto: Deite-se sobre a cama, esteira ou grama, em posição confortável. Não use travesseiro. Comece controlando a respiração. Contemple que tudo o que restou do seu corpo é um branco esqueleto deixado na terra. Mantenha leve sorriso e continue a seguir a respiração. Imagine que toda sua carne se decompôs, e que seu esqueleto agora jaz na terra, oitenta anos depois dos funerais. Veja claramente os ossos de sua cabeça, costas, quadris, pernas, braços e dedos. Mantenha leve sorriso e respire suavemente, com o coração e mente serenos. Veja que seu esqueleto não é você. Sua forma física não é você. Seja uno com a existência. Viva eternamente nas árvores, na relva, nas outras pessoas, nos pássaros, nos animais, no céu, nas ondas do oceano. Seu esqueleto é apenas uma parte de você. Você está presente em tudo e em qualquer tempo. Você não é apenas seu corpo, ou mesmo sentimentos, pensamentos, ação e conhecimento. Contemple assim de vinte a trinta minutos.
d-) Contemplação de sua face antes de ter nascido: Sentado em lótus completo ou meio lótus, siga sua respiração. Concentre-se no início de sua vida. (A) Saiba que ele é o início de sua morte também. Veja que ambos, vida e morte, se manifestam ao mesmo tempo: isto é porque aquilo é, isto não poderia existir se aquilo não existisse. Veja que a existência de sua vida e morte depende uma da outra: uma constitui a base da outra. Veja que você é ao mesmo tempo sua vida e sua morte; que ambas não são inimigas, mas aspectos da mesma realidade. Então, concentre-se no ponto em que essa dupla manifestação termina (B), que erradamente é denominado morte. Veja que é o ponto final da manifestação de ambas: sua vida e sua morte. Veja que não há diferença antes do A e depois do B. Procure sua verdadeira face no período anterior a A e posterior a B.

e-) Contemplação do ente querido morto: Deite ou sente-se em posição confortável. Comece controlando a respiração (3.a). Contemple o corpo do ente querido, morto há poucos meses, ou há muitos anos atrás. Saiba claramente que toda a carne dessa pessoa se decompôs e que só o esqueleto resta agora. Saiba claramente que seu corpo ainda está aqui e que nele convergem os cinco agregados: forma física, sentimentos, percepção, função mental e consciência. Pense na sua interação com essa pessoa no passado e no momento presente. Mantenha leve sorriso e mantenha controle de sua respiração. Contemple assim por quinze minutos.

5. Contemplação da compaixão
a-) Contemplação da pessoa que você mais despreza e odeia: Sente-se em lótus completo ou meio lótus. Respire e sorria. Contemple a imagem da pessoa que mais lhe causou sofrimentos. Contemple a forma física, sentimentos, percepções, função mental e consciência dessa pessoa. Contemple cada agregado separadamente. Comece com a forma física, contemplando o aspecto que mais despreza ou que mais repugnância lhe cause. Continue com os sentimentos da pessoa: examine o que é que a torna feliz ou sofredora na vida diária. Ao contemplar a percepção, tente ver os padrões de pensamento e de raciocínio que essa pessoa segue. Como funcionamento mental, examine o que motiva suas ações e aspirações. Finalmente considere sua consciência: veja se sua visão e discernimento são abertos ou não, e se forma ou não influenciados por preconceitos, estreiteza mental e ódio. Veja se a pessoa é ou não senhora de si mesma. Contemple assim até que a raiva e o desprezo desapareçam e a compaixão brote em seu coração, como água fresca nascendo na fonte. Pratique esse exercício muitas vezes.


Estes exercícios são parciais. A série completa pode ser encontrada no livro “Para Viver em Paz” – O Milagre da Mente Alerta – Thich Nhât Hanh.

Os Cinco Treinamentos - Comentários da Irmã Chân Không

Aqui estão algumas respostas que temos oferecido para aqueles que amam a beleza e a bondade dos treinamentos da plena consciência, mas hesitam em tomá-los formalmente (por Irmã Chân Không – Uma das primeiras colaboradoras do Thay e organizadora central das atividades em Plum Village - Tradução: Samuel Cavalcante)
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Questão: Eu nasci cristão. Eu tenho de abandonar minha fé para receber os Cinco Treinamentos da Plena Consciência formalmente?

Irmã Chân Không: Uma árvore sem raízes não pode sobreviver; você não poderá crescer bem espiritualmente se você não tiver raízes. Você não deve abandonar suas raízes religiosas. Por favor, pratique a plena consciência como base tendo os Cinco Treinamentos da Plena Consciência como guia. Com a plena consciência você pode observar em profundidade as raízes de sua tradição e descobrir nela muitas jóias maravilhosas. Você deve redescobrir as linhas mestras de sua própria tradição que você pode compartilhar com seus amigos cristãos e não cristãos.

Questão: Quando eu tomo os Cinco Treinamentos da Plena Consciência com outros professores budistas, as expressões usadas não são tão claras como nos treinamentos da plena consciência de Thich Nhat Hanh. Posso tomá-los novamente?

Irmã Chân Không: Sim. Os Cinco Treinamentos da Plena Consciência vêm de Buda. Seu professor-raiz continua a ser o seu professor-raiz. O novo modo de expressar os Cinco Treinamentos da Plena Consciência oferecidos por Thây serve para ajudar você a praticar bem os ensinamentos de Buda. Seu professor-raiz ficará bastante satisfeito se você renovar seus votos dessa maneira. Ele ou ela serão sempre o seu primeiro professor. Thây Nhat Hanh será o seu segundo ou terceiro ou quarto professor. Nós podemos ter muitos professores para enriquecer nossa experiência.

Questão: Eu quero praticar os Cinco Treinamentos da Plena Consciência, mas por que é necessário tomar refúgio nas Três Jóias?

Irmã Chân Không: Sem uma forte crença nestas três jóias preciosas, você não poderá praticar os Cinco Treinamentos da Plena Consciência. "Eu tomo refúgio no Buda" significa que eu acredito firmemente ma minha habilidade de me tornar iluminado, de transformar minhas dificuldades, me tornar livre de todo o sofrimento e ser uma fonte de alegria e paz para mim mesmo e para os outros. "Buda" significa o Buda em mim, o potencial de despertar em mim. Eu sei que Shakyamuni Buda é o meu professor. Sei também que ele não é um deus.

"Eu tomo refúgio no Dharma" significa que eu acredito na prática da plena consciência, que traz entendimento e amor. Eu acredito no método que Shakyamuni Buda me ofereceu a partir de sua experiência, para que assim eu possa realizar o caminho que leva à liberdade do sofrimento.

"Eu tomo refúgio na Sangha" significa que eu acredito na sabedoria coletiva de um grupo de amigos que se dedicam a praticar o mesmo método que eu em nosso caminho de libertação. Nós precisamos uns dos outros para apoiar e compartilhar as experiências de prática para que nossas percepções se aproximem cada vez mais da realidade e nossas ações se tornem cada vez mais harmoniosas. Apoiando-nos no caminho da realização, e assim fazendo coletivamente, nossos esforços beneficiarão a nós mesmos e a todos os seres.

Sem fé e confiança nas Três Jóias é difícil praticar bem os Cinco Treinamentos da Plena Consciência.

Pergunta: Eu posso tomar apenas um, dois, três ou quatro dos Cinco Treinamentos da Plena Consciência?

Irmã Chân Không: O Buda diz sim, você pode. Se você pratica profundamente mesmo que apenas um treinamento da plena consciência, você irá descobrir que está mantendo os outros quatro mesmo sem fazer uma promessa formal. Os Cinco Treinamentos da Plena Consciência são bem interconectados.

Pergunta: Se eu tomo o Primeiro Treinamento da Plena Consciência isso significa que eu tenho que me tornar vegetariano?

Irmã Chân Không: Thây Nhat Hanh nos pede que pratiquemos a plena consciência cada vez que comamos ou bebamos. Se assim o fizermos, descobriremos que o nosso apetite por carne e peixe começa a diminuir. O que é importante é estar consciente do que consumimos. Encontrei pessoas que não podiam ser vegetarianas por razões médicas, mas que respeitavam mais a vida que muitos vegetarianos. Alguns vegetarianos são por demais extremados e não são respeitosos com aqueles que não podem deixar de comer carne. Sinto-me mais confortável com um consumidor de carne do que com um vegetariano extremista que se considera o dono da verdade.

Pergunta: Muitos dos meus amigos, incluindo eu mesmo, temos dois ou três parceiras sexuais. Como você sugere que eu mantenha o Terceiro Treinamento da Plena Consciência?

Irmã Chân Không: Quando você faz duas ou três coisas ao mesmo tempo, como jantar, assistir televisão e conversar com os amigos na mesa do jantar, você acaba não fazendo nenhuma das três coisas profundamente. Você não consegue saborear e gozar cada porção de comida que sua amada preparou para você. Você também não consegue dar atenção completa ao programa de televisão e também não poderá ouvir com cuidado o que seus amigos estão dizendo. É muito mais difícil se você tem várias parceiras sexuais ao mesmo tempo. Por favor, examine isso profundamente. Nenhuma de suas relações será profunda. Pergunte ao seu coração se é realmente feliz. Pode estar tudo bem agora, mas você está certo de que não está causando sofrimento para você ou para suas parceiras? Uma relação superficial, sem compromisso, nunca leva à uma real felicidade ou paz.

Pergunta (de um adolescente): Na minha escola, todos os da minha idade são sexualmente ativos. Por que eu não eu não deveria ser? Se eu não agir como eles, meus amigos irão pensar que eu sou estranho.

Irmã Chân Không: Uma relação sexual é um profundo ato pela paz mútua e pela preservação das espécies. Agir de uma maneira superficial prejudica nosso corpo e nossa mente. Quando nossa mente não está pronta para tal ato profundo, nossos sentimentos, percepções e entendimento em relação ao nosso amigo não são profundos o suficiente, um ato sexual irá aumentar o risco de destruição da amizade. Você pode pensar que um ato sexual é apenas mais um que você faz por prazer ou diversão, mas muitos jovens me disseram que eles depois concluíram que foi um erro. Sexo é mais profundo que outros atos. A dor causada por ter sexo sem compromisso pode ser profunda e a ferida pode levar anos para se curar. Controle da natalidade não tem nada a ver com essas feridas mentais. Muitos adolescentes dizem que eles não têm nenhuma alegria na vida, nenhum desejo de viver, depois de um dano psicológico causado por uma relação sexual para a qual eles não estavam preparados. Comumente, nós só compartilhamos nossos maiores segredos com aqueles os quais tenhamos tido uma longa experiência de apreciação e confiança. Isto também é verdadeiro com nossos corpos. Nós não deveríamos compartilhar nossos corpos com alguém que não tenhamos a intenção de ter um compromisso de longo prazo.

Pergunta: Posso tomar o Quinto Treinamento da Plena Consciência e ainda tomar ocasionalmente um copo de vinho ou cerveja no jantar?

Irmã Chân Không: Thây Nhat Hanh nos aconselha a não beber nenhum álcool se possível. Se você ainda tem uma forte inclinação para beber, faça-o com plena consciência. Observe profundamente as condições de sua vida, de seu coração, para o fato de que a humanidade desperdiça muitos grãos e frutas fabricando álcool ao invés de alimentar outros humanos. Meditar dessa maneira nos levará a nos sentir desconfortáveis quando bebemos qualquer quantidade de álcool.

Se você não está preparado para parar totalmente de beber, por favor tome os primeiros quatro treinamentos da plena consciência e tente beber com plena consciência até você estar pronto para parar. Thây Nhat Hanh aconselha aqueles que tomam o Quinto Treinamento a não beberem de jeito nenhum, mesmo que seja apenas um copo de vinho ou cerveja por semana. As autoridades da França dizem aos seus cidadãos que um copo de álcool está o.k., mas que três já é dizer olá para os danos que um acidente pode trazer. Mas como você poderá ter um segundo ou terceiro copo se você não tomou o primeiro?

Sob condições normais, nós podemos tomar um ou dois copos de vinho de tempos em tempos. Mas em momentos de desespero, tomamos cinco, seis ou sete copos para esquecer nossas tristezas. Isto pode levar ao abuso de álcool. Uma adorável vovó, durante um retiro na Inglaterra, fez esta pergunta e disse para ela: "Você bebe moderadamente, mas está segura que seus filhos e filhas, netos e netas são como você? Se durante um ou dois momentos de desespero eles beberem gradualmente mais e mais e se tornarem alcoólatras e se destruírem a si mesmos fisicamente e mentalmente, quem seria o responsável? Você não terá participado parcialmente neste processo? Se você mantém o Quinto Treinamento agora você poderá ser uma tocha de luz para as futuras gerações de netos. Mantenha os treinamentos da plena consciência como um bodhisattva, não os tome como ordens que devem ser obedecidas.”

Pergunta: Se eu quebrar um treinamento a quem devo confessar?

Irmã Chân Không: Confesse para o seu próprio Buda. A melhor maneira de praticar é com um grupo de amigos, mesmo se um ou dois. Fazendo esforço por seguir esse caminho de beleza, você pode compartilhar com eles seus sucessos e fracassos. Recitar os treinamentos regularmente com o grupo ajuda bastante. Durante a recitação dos Treinamentos da Plena Consciência, seguindo a leitura de cada treinamento, esta questão é levantada: "Você fez um esforço em estudá-los e praticá-los durante as duas últimas semanas?". Se você quebrou um treinamento, você poderá dizê-lo, silenciosamente, a si mesmo, "sei que não fui plenamente consciente e quebrei este treinamento da plena consciência. De agora em diante tentarei fazer melhor". Não se sinta tão culpada. Sua energia de hábito é bastante forte. O fato de você saber dos seus atos negativos irá enfraquecer esta energia de hábito cada vez que você recitar o treinamento e, breve, seu hábito terá se transformado.

Pergunta: Cuidando do jardim, freqüentemente sinto necessidade de eliminar certas "pestes" - vermes, insetos, roedores, que destroem o jardim. Isto é contra o Primeiro Treinamento da Plena Consciência? Também não sei como lidar com infestações, baratas e outras "pragas" domésticas. Como é que um praticante do budismo lida com esses problemas?

Irmã Chân Không: Mesmo quando fervemos água numa chaleira, devemos estar cientes de que estamos matando muitos microorganismos nesse processo. Nosso esforço é não matar, assim tentamos usar vários métodos para causar o menor dano possível a todas as criaturas vivas. Por exemplo, na jardinagem, aprendemos como cultivar certas plantas ao lado das flores, e outros vegetais, que repelem os insetos, vermes e roedores. Fazemos o possível para não usar pesticidas nocivos, mas usar substâncias orgânicas que não matem os animais, se for possível. Da mesma maneira, tentamos afugentar formigas e baratas por meios não prejudiciais - deixando comida fora do alcance delas, usando repelentes orgânicos ou apenas sendo pacientes. Se, finalmente, julgarmos necessário matar essas criaturas, é muito importante estar ciente do fato de que os estamos matando. Com plena consciência, continuamos nossos esforços em não causar dano (mesmo que saibamos que algum dano foi causado). A não violência nunca pode ser absoluta. Mas podemos continuar a fazer o possível para minimizar os danos que causamos e maximizar nossa apreciação e reverência por todas as formas de vida - pessoas, animais, plantas e minerais.

Eu gostaria de contar a vocês sobre um amigo chamado James, que sofreu tremendamente. Quando era uma criança de cinco anos foi surrado por sua mãe e empurrado junto com a sua bicicleta por dois lances de escada abaixo. Ele relembra como todos os atos de violência de sua mãe se deram no período em que ela estava bebendo. Um dia, ele apanhou até o seu olho esquerdo ficar bastante roxo e inchado. Na escola, quando seu professor perguntou por que o olho dele estava inchado, ele disse a verdade. O professor ligou para a sua casa e sua mãe negou que tivesse batido no filho. Aos quarenta e dois anos James ainda chora como uma criança de cinco anos quando lembra o ocorrido, "Ele acreditou nela e eu fui punido por mentir. Continuei a dizer a verdade e eles me puniram".

Sua mãe o enviou para viver com sua avó, que usava drogas e álcool. Quando ele tinha sete anos, ela começou a abusar dele sexualmente e a surrá-lo, especialmente quando estava bêbada. Outros atos de violência inacreditáveis foram infligidos a ele como resultado do uso de drogas e álcool. Ele fugiu da casa da avó e voltou para sua mãe. Mas ela também começou a abusar dele sexualmente. Por fim, ele conseguiu economizar o suficiente para fugir para a casa do seu pai. Quando ligou para ele dizendo que estava na mesma cidade e que desejava viver com ele, o pai ficou apavorado e mandou-o de volta.

Quando ele tinha dezessete anos, seu pai o encorajou a se alistar no exército e ir para o Vietnã. Antes de dizer adeus seu pai bateu nas suas costas e disse "o exército vai fazer de você um homem, filho". James chorou novamente. Uma tarde em Plum Village, James descreveu como ele ficava sufocado pelo desespero quando ele via todos aqueles garotos e garotas vietnamitas que traziam à lembrança aqueles que ele matou no Vietnã. Depois de muitos dias e noites de trocas de tiros a bordo do seu helicóptero, um dia ele sairia e descobriria pilhas de corpos humanos enfileirados por várias centenas de metros. "Como eu poderia trazer esses corpos à vida?". Seus amigos tentaram confortá-lo dizendo, "É a guerra, James, você não pode evitar." James pode dizer a você como, olhando para trás na sua vida, as raízes da guerra começaram na violência do divórcio dos seus pais, no alcoolismo e abuso sexual.

Tenho sido uma assistente de Thây Nhat Hanh na conduta de muitos retiros de prática da plena consciência para vietnamitas e amigos ocidentais desde 1983. Sempre encorajo as pessoas a dizer suas dificuldades ao Thây, para que ele possa ajudá-los a transformar suas dores intermináveis. Mas como Thây não pode receber todos, eu tenho ouvido a dor de muitas pessoas. A história de James é uma das dezenas de histórias similares de veteranos de guerra e outros. Muitos tiveram pais e mães que eram alcoólatras e muitos vieram de famílias destruídas. No início eu pensava que era um problema americano, mais tarde, ajudando Thây em retiros na Inglaterra, Alemanha, Suíça, Itália e França, ouvi as mesmas tristes histórias. Muito sofrimento advém do fato de que as pessoas bebem demais, são irresponsáveis em sua conduta sexual, mentem, causam sofrimento a outros devido à sua fala descuidada ou reproduz comentários sem estar seguros da sua veracidade. Muitas pessoas foram criadas por adultos bêbados ou adultos com mentes poluídas que abusavam das crianças por que eles mesmos foram vítimas disso na sua infância. Eu compreendi que os adultos que aterrorizavam suas crianças eram, eles próprios, também vítimas.

Uma maneira de sair do sofrimento, em nossa opinião, é se juntar a um grupo de pessoas alegres e que tentam praticar caminhando no sentido da bondade, da beleza e da verdade. As pessoas no grupo devem olhar sinceramente para as suas fraquezas, sorrir para elas e considerá-las como parte do seu composto a ser transformado em flores.

Hoje, existem tantas mentes poluídas e tanta atmosfera de violência e abuso. Precisamos descobrir uma saída. Os Cinco Treinamentos da Plena Consciência representam um belo caminho que leva ao despertar. Mesmo se nós mesmos não tenhamos sido abusados quando crianças ou não tivéssemos tido problemas com o álcool, irresponsabilidade sexual etc., nós podemos ajudar muitos outros recebendo formalmente os treinamentos e praticando-os. Podemos ser exemplo para muitas pessoas e ajudá-las na direção da alegria e da paz.