terça-feira, 17 de março de 2009

Meditação sobre o Amor

O Buda nos deixou numerosas meditações sobre o Amor. Certa vez, um grupo de monges disse a ele que perto do mosteiro na floresta viviam espíritos que causavam sofrimento às pessoas. Foi quando o Buda lhes ensinou o Metta Sutta (Discurso sobre o Amor):

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Aquele ou aquela que quiser alcançar a paz deverá ser honesto, humilde e capaz de ter uma fala amorosa. Saberá viver com simplicidade e feliz, os sentidos apaziguados, livre de inveja e sem se deixar levar pelas emoções da maioria das pessoas. Que não cometa tos que sejam desaprovados pelos sábios (e é isso que ele ou ela almeja): "Que todas as pessoas possam ser felizes e viver em segurança, e que seu coração esteja pleno de alegria. "Que todos os seres possam viver em segurança e em paz, quer sejam fracos ou fortes, altos ou baixos, grandes ou pequenos, visíveis ou invisíveis; quer estejam perto ou longo, já tendo nascido ou ainda por nascer. Que todos possam viver em perfeita tranqüilidade. "Não deixemos ninguém fazer o mal a ninguém. Não deixemos que alguém coloque uma vida em perigo. Não deixemos que, por raiva ou más intenções, alguém deseje o mal a outra pessoal "Assim como a mãe que ama seu único filho o protege arriscando a própria vida, devemos cultivar o amor sem limites e oferecê-lo a todos os seres vivos de todo o cosmo. Deixemos esse amor sem limites penetrar por todo o universo, em cima, embaixo e em todas as direções. Nosso amor não conhecerá obstáculos, nosso coração será absolutamente livre de ódio e inimizades. Quer estejamos de pé ou andando, sentados ou deitados, enquanto despertos manteremos essa consciência de amor no nosso coração. Essa é a maneira mais nobre de viver. "Livres de visões errôneas, da cobiças e dos desejos sensuais, com a vida voltada para o belo e dentro de uma perfeita compreensão, os que praticam o amor sem limites certamente transcenderão o nascimento e a morte". Depois de muitos meses recitando e praticando o Metta Sutta, os monges começaram a compreender o sofrimento dos espíritos conturbados. Por causa disso, os espíritos passaram a praticá-lo também, tornando-se plenos da energia do amor, e toda a floresta foi pacificada. O Buda ofereceu também muitos exercícios para ajudar os discípulos a praticar as quatro mentes incomensuráveis: Quanto tiver com a mente cheia de amor, mande-a em uma direção, depois em uma segunda, terceira, quarta e ainda para cima e para baixo. Identifique-se com todas as coisas, sem ódio, ressentimento, raiva nem inimizade. Essa mente de amor é imensa. Ela cresce incomensuravelmente e, por fim, é capaz de abraçar o mundo inteiro. Pratique dessa mesma forma com a mente cheia de compaixão, em seguida com a alegria e, por último, com a equanimidade. Com a mente cheia de amor, o monge segue uma direção, depois uma segunda, terceira, quarta e ainda para cima e para baixo e ao redor, a todo instante se identificando com tudo. Ele permeia o mundo inteiro com sua mente cheia de amor, ampla, profunda, expandida, desprendida, livre de ódio e más intenções. O mesmo ele faz com a mente plena de compaixão, alegria e equanimidade. Quando a energia do amor está forte dentro de nós, podemos enviá-la para os seres em todas as direções. Mas não devemos pensar que a meditação sobre o amor é apenas um ato de imaginação - imaginamos nosso amor como ondas de som ou de luz ou como uma nuvem pura e branca que se forma lentamente e aos poucos vai se espalhando para abraçar o mundo inteiro. A nuvem de verdade produz chuva. O som e a luz tudo permeiam, e assim deverá ser nosso amor. Precisamos observar se, quando entramos realmente em contato com os outros, nossa mente de amor está presente. Na prática da meditação sobre o amor, a posição sentada é apenas o começo. Mas um começo importante. Calmamente nos sentamos e olhos bem no fundo de nós mesmos. Continuando a praticar nosso amor naturalmente se expande, tornando-se um amor abrangente que inclui tudo e todos. À medida que vamos aprendendo a ver com os olhos do amor, eliminamos da nossa mente a raiva e o ódio. Enquanto essas formações mentais negativas estão presentes em nós, nosso amor esta incompleto. Pensamos que compreendemos e aceitamos as pessoas, mas ainda não somos capazes de amá-las inteiramente. Nagarjuna diz: "Quando praticar a mente incomensurável de amor, olhe bem no fundo de você mesmo e enfrente sua raiva e seu ódio." Na introdução de Mahaprajñaparamita Shastra, de Nagarjuna, o tradutor Étienne Lamotte escreveu que as quatro mentes incomensuráveis não passam de ideais platônicos, ou de meras idéias, não são algo que possa ser concretizado. Embora o professor Lamotte tenha se mostrado um excelente tradutor, na verdade ele não estava familiarizado com a prática budista. A partir do momento em que deixamos brotar o desejo de todos os seres serem felizes e terem paz, a energia do amor surge na nossa mente, e todos os nossos sentimentos, percepções e formações mentais, assim como a nossa consciência, são trepassados pelo amor; na realidade, eles se tornam amor. Isso não é um mero "ideal". Nagarjuna é direto: Quando desejamos que os seres, me todos os sentidos, sejam felizes, surge em nós a intenção de amar. Essa disposição de amar permeia nossos sentimentos, percepções, formações mentais e consciência; depois, ela se manifesta em todas as nossas ações, na nossa fala e em outras atividades mentais. Eventos que não são mentais nem físico e que surgem em seguida estão em sintonia com o amor e podem ser chamados de amor em si mesmos, pois sua raiz é o amor. Esses eventos determinam nossas futuras ações e são guiados por nossa vontade, que agora está inundada de amor. A vontade é a energia que dirige os atos e a fala. Isso também é válido para o despertar da compaixão, da alegria e da equanimidade. Atenção plena é a energia que nos permite examinar a fundo nosso corpo, sentimentos, percepções, formações mentais e consciência, vendo com clareza nossas reais necessidades, de modo que não nos afoguemos no mar do sofrimento. Finalmente, o amor preenche nossa mente e nossa vontade, e a partir desse momento ele se manifesta em todas as nossas ações. A fala e os atos são frutos da vontade. Portanto, quando a vontade está permeada pelo amor, a fala e as ações também ficam inundadas de amor. Usamos palavras amáveis e construtivas e agimos no sentido de proporcionar felicidade e aliviar o sofrimento. No entanto, em outra passagem do Mahaprajñaparamita Shastra, Nagajurna também se refere às quatro mentes incomensuráveis como meras aspirações que so existem na mente. É quase a mesma afirmação dos ideais platônicos do professor Lamotte. Foi Nagarjuna quem forneceu as palavras para ele! Se nos lembrarmos de que Nagarjuna queria antecipar os pontos de vista do recém criado budismo Mahayana, podemos compreender mais facilmente a seguinte declaração feita por ele: "Os seguidores do Hinayana praticam as quatro mentes incomensuráveis, mas somente como forma de aspiração. As mentes incomensuráveis, quando unidas às paramitas do Mahayana, são as mentes incomensuráveis do bodhisattva que podem transformar o mundo." Em seu empenho em promover o Mahayana, Nagarjuna cometeu um erro ao se referir às quatro mentes incomensuráveis do Hinayana como meramente internas, sem manifestação externa. Isso contradiz suas palavras anteriores de que, quando a mente de amor surge, ela se manifesta nas nossas palavras e ações. Dizem que amor, compaixão, alegria e equanimidade são aspirações que só existem na mente não é correto. Praticamos não para que as quatro mentes incomensuráveis surjam em nós como também para introduzí-las no mundo, por meio de palavras e ações. Quando praticamos a meditação sobre o amor, não nos limitamos a visualizar nosso amor espalhando-se pelo espaço. Nós tocamos as profundas fontes de amor que já possuímos e, então, na vida diária, no contato real com as pessoas, expressamos e compartilhamos nosso amor. Praticamos até ver os efeitos concretos que nosso amor proporciona aos outros, até desenvolvermos a capacidade de propiciar paz e felicidade para todas as pessoas, mesmo para aquelas que agiram contra nós da maneira mais desagradável. Buddhaghosa, autor de The Path of Purification: Visuddhimagga (O caminho da purificação: Visuddhimagga) nos diz que, quando a meditação começa a dar frutos, reconhecemos em nós mesmos os sinais da mente amorosa: (1) o sono fica mais relaxado, (2) não temos pesadelos, (3) despertamos com mais disposição, (4) não temos ansiedade nem depressão e (5) somos amados e protegidos por todos e por tudo que nos rodeia. No Anguttara Nikaya, o Buda fala sobre as 11 vantagens de praticar a meditação sobre o amor. Ele aborda o tema destacando o que é vantajoso e o que não e vantajoso, pois dessa forma incentiva as pessoas a praticar. 1. O praticante dorme bem. 2. Sente-se disposto a acordar e percebe que há compreensão em seu coração. 3. Não tem sonhos desagradáveis. 4. É querido por muitas pessoas. Sente-se à vontade com todos. As pessoas gostam de ficar perto dele, especialmente as crianças. 5. É querido por espécies não humanas: pássaros, cães, gatos, etc. Espécies visíveis e invisíveis apreciam ficar junto a ele. 6. É apoiado e protegido por deuses e deusas. 7. É protegido contra fogo, veneno e lâmina. Não precisa fazer nenhum esforço especial para evitá-los. 8. Alcança a concentração medidativa com facilidade. 9. Seu rosto brilha e é límpido. 10. Na hora da morte, sua mente está serena. 11. Renasce no céu de Brahma, onde pode continuar a prática, porque lá já existe uma sangha dos que praticam as quatro mentes incomensuráveis. No Itivuttaka, o Buda diz que, se somarmos todas as ações virtuosas que realizamos neste mundo, o resultado não será igual à prática da meditação sobre o amor. Construir centros para praticar, fazer figuras do Buda, tocar sinos ou dedicar-se ao serviço social não produzem um dezesseis avos do mérito de meditar sobre o amor. Se juntarmos as luzes de todas as estrelas, o brilho não será tão intenso quanto a luz da Lua. Da mesma maneira, praticar a meditação sobre o amor é muito mais do que todas as outras ações virtuosas combinadas. A prática desse tipo de meditação é como cavar fundo no solo até encontrarmos a água mais pura. Observamos nossas próprias profundezas até surgir um insight e o amor fluir para a superfície. Nossos olhos irradiam alegria e felicidade, e todos os que nos rodeiam se beneficiam do nosso sorriso e da nossa presença. Quando praticantes do budismo Mahayana dizem "os budistas Hinayana pertencem a um veículo menor, só cuidam de si mesmos e não se preocupam com os outros", é porque não compreendem que, cuidando bem de nós mesmos, ajudamos as pessoas. Deixamos de ser uma fonte de sofrimento para o mundo e passamos a ser um reservatório de alegria e renovação. Aqui e ali existem pessoas que sabem como cuidar bem de si mesmas, que vivem contentes e felizes. Elas são nosso apoio mais forte. Tudo o que fazem, fazem por todos. Esse é o significado do budismo Mahayana. É isso que significa meditar sobre o amor. Disse o Buda que, se um monge praticar a meditação sobre o amor somente pelo tempo equivalente ao do estalar de um dedo, ele merece ser monge: "Ele não falhará na concentração meditativa. Realizará os ensinamentos que foram dados pelos mestres sobre o caminho. O alimento que lhe for oferecido como esmola não será desperdiçado. Não existe virtude maior do que praticar essa meditação todos os dias."


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