Queridos amigos, o texto lido em nosso último encontro, "trata-se de uma carta coletiva escrita durante o Retiro de Inverno 2008/9. Plum Village encontra-se numa região rural, cercada por vinhedos e plantações de girassóis, e muitos bosques. Em alguns destes bosques é permitida a caça, e às vezes, de Plum Village ouvimos os tiros dos caçadores. Ou então, quando vamos fazer meditação caminhando nestes bosques, deparamo-nos com as armadilhas e as torres de observação utilizadas pelos caçadores. Dentro da tradição de Budismo Engajado nasce esta iniciativa de Plum Village, através do monge Pháp An, de oferecer uma alternativa pacífica à caça esportiva, olhando em profundidade todo o contexto de interser que dá origem a essa atividade. Esta carta foi traduzida para diversos idiomas e tem sido compartilhada com Sanghas ao redor do mundo, que depois fornecem feedback a Plum Village. Traduzi e me comprometi com o Pháp An de compartilhar a iniciativa dele com a Sangha brasileira, como já fizemos na reunião de domingo, e tanto melhor que agora ela ganhe a internet e colha mais participações.Esta carta insere-se também no tema do Retiro de Inverno, que foi "Os passos do Buda: a contribuição budista para uma ética global". Thây nos convida como Sangha mundial a reescrever os Cinco Treinamentos da Plena Consciência, e passamos todos os três meses do retiro trabalhando nisso, durante cada Compartilhar do Dharma . Uma primeira versão saiu ao fim do Retiro de Inverno, para ser de novo trabalhada durante o Retiro da Primavera, 21 dias em Junho, e então teremos a estréia dos novos Cinco Treinamentos da Plena Consciência em Julho, durante o Retiro de Verão. Como muito bem dito na carta, trata-se de "encontrar e utilizar meios hábeis de mover-nos de uma visão correta na direção da ação correta, através do discurso correto." Gostaria que essa carta inspirasse nossa Sangha a refletir, a contribuir e a agir. (Texto: Marcelo de Abreu - Foto: Leonardo Dobbin)
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Caro Thây, cara comunidade, caros amigos, Irmão Phap An tem uma idéia, uma visão, a qual tem compartilhado com inúmeros praticantes, vindos de distintos paises e meios culturais e sociais, e que estão passando o Retiro de Inverno no templo de Son Ha, Plum Village, França. Hoje gostaríamos de compartilhar esta visão com Thây, com a comunidade, com membros da Ordem do Interser e praticantes de Sanghas laicas locais, pedindo que nos ajudem a tentar dar vida e substância a esta idéia. É sobre caça e caçadores. Desfrutamos profundamente passear pelas florestas, e estamos cientes de que caçadores e associações de caça participam significativamente na manutenção de trilhas e da acessibilidade à mata, tornando possível caminhar ali. Estamos cientes de que a motivação dos caçadores é o amor à natureza, a busca do contato com a natureza e com suas próprias raízes. Em tempos passados, nossos ancestrais tinham de caçar para alimentar-se, e às suas famílias. Atualmente, entretanto, os tempos mudaram e, num país desenvolvido, não mais precisamos caçar para alimentar nossas famílias. De caçadores coletores, nossos ancestrais tornaram-se fazendeiros e pastores; mantiveram porém e nos transmitiram o desejo pela liberdade e proximidade com a natureza selvagem, que talvez só seja verdadeiramente conhecida por caçadores coletores. Também estamos cientes de que nossos ancestrais atravessaram muitas guerras, mortandades, massacres, algumas vezes como presas e outras como predadores, e que as sementes da violência e do terror experienciados por eles estão presentes em cada um de nós. Estamos cientes, ainda, da degradação do meio-ambiente e da violência associada ao uso de armas, no presente. Neste contexto, como podemos reconciliar, hoje em dia, a nobre aspiração de viver livremente em contato com a natureza, com respeito pela vida e pela natureza em todos os aspectos, incluindo animais, plantas e minerais? Como podemos transmitir a nossos filhos e descendentes a rica herança que nos foi dada por nossos ancestrais, sem ao mesmo tempo transmitir-lhes todo o sofrimento associado à violência, guerras, mortandades, massacres, que nossos ancestrais atravessaram?
Aqui podemos manifestar nossa visão, nosso projeto:
Propondo, localmente, através das Sanghas laicas locais de Plum Village, em tantos lugares do mundo quanto possíveis, para associações ligadas ao meio-ambiente, à caca, e para associações de fotógrafos amadores, tornarem-se parte de uma campanha que poderia ser chamada: OS CAÇADORES DE IMAGENS
Esquema desta campanha: Competição de fotografia de animais vivendo em seu habitat natural. Serão convidados a participar: - caçadores, familiarizados com os animais e seu meio-ambiente, - fotógrafos amadores, - todos os amantes da natureza. - Um júri pode selecionar fotos baseadas em critérios artísticos e na representação do meio-ambiente e comportamento dos animais. - Tal júri pode ser composto por membros de grupos para conservação do meio-ambiente, associações de caça e fotógrafos profissionais. - Os prêmios incluiriam câmeras e outros equipamentos de alta qualidade, doados por patrocinadores, encorajando os participantes a desenvolver seus talentos. - Um site na internet pode ser criado a fim de compartilhar as fotos e as experiências dos participantes. Nossos objetivos: - Promover a proteção à vida e ao meio-ambiente através da arte e da ciência da fotografia; - Ajudar caçadores e todos os amantes da natureza a reconhecer que compartilham o amor pela natureza e o desejo de conservar e proteger nossa herança comum; - Facilitar a comunicação construtiva e amistosa e o compartilhar de conhecimento entre pessoas (por exemplo, caçadores poderiam compartilhar com os habitantes urbanos seus conhecimentos sobre a floresta; fotógrafos amadores poderiam compartilhar seu conhecimento e paixão pela fotografia; aqueles que amam a vida poderiam compartilhar seu cuidado e respeito à vida em todas as suas formas); - Desenvolver a consciência da importância cultural, histórica e ecológica de proteger e transmitir a nossas crianças espaços naturais livres e protegidos de toda violência. Nota 1: Fotografar animais vivendo livremente na natureza requer grande paciência e concentração, as quais são qualidades de um verdadeiro caçador; também requer humildade e compaixão, que são qualidades de um verdadeiro ser humano. Nota 2: Não se pode empunhar uma arma e uma câmera ao mesmo tempo. Desejamos encorajar nossos irmãos caçadores a trocar suas armas por uma câmera, e regar suas sementes de compaixão, estimulando-os a reconhecer o valor da vida e a curar as feridas da violência em nossa consciência coletiva. Voila, apresentamos assim nossa visão, nosso projeto. Este projeto pode ser traduzido e apresentado a Sanghas ligadas a Plum Village em todo o mundo, como um exercício e proposta de colocar em prática aquilo que chamamos de Budismo Engajado. Tal exercício pretende colocar em prática: - Ética: proteger a vida e o meio-ambiente; - Olhar em profundidade: enxergar a relação de interser entre homens e natureza, entre caçadores e ativistas ecológicos, e entre todos nós, incluindo nossos ancestrais e descendentes; - Discernimento: capacitar-nos a encontrar e utilizar meios hábeis de mover-nos de uma visão correta na direção da ação correta, através do discurso correto. Obrigado por sua resposta e por oferecer-nos sugestões.
Participaram da preparação e várias traduções deste projeto: Kelsang Jampel (USA), David (Canadá), Ricardo (Itália), Robert (Alemanha), Bart e Yuri (Bélgica e México), Karel, Gerard (Holanda), Gerard (Catalunha), Gregorio (Espanha), Marcelo (Brasil), Phap An (França)
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Caro Thây, cara comunidade, caros amigos, Irmão Phap An tem uma idéia, uma visão, a qual tem compartilhado com inúmeros praticantes, vindos de distintos paises e meios culturais e sociais, e que estão passando o Retiro de Inverno no templo de Son Ha, Plum Village, França. Hoje gostaríamos de compartilhar esta visão com Thây, com a comunidade, com membros da Ordem do Interser e praticantes de Sanghas laicas locais, pedindo que nos ajudem a tentar dar vida e substância a esta idéia. É sobre caça e caçadores. Desfrutamos profundamente passear pelas florestas, e estamos cientes de que caçadores e associações de caça participam significativamente na manutenção de trilhas e da acessibilidade à mata, tornando possível caminhar ali. Estamos cientes de que a motivação dos caçadores é o amor à natureza, a busca do contato com a natureza e com suas próprias raízes. Em tempos passados, nossos ancestrais tinham de caçar para alimentar-se, e às suas famílias. Atualmente, entretanto, os tempos mudaram e, num país desenvolvido, não mais precisamos caçar para alimentar nossas famílias. De caçadores coletores, nossos ancestrais tornaram-se fazendeiros e pastores; mantiveram porém e nos transmitiram o desejo pela liberdade e proximidade com a natureza selvagem, que talvez só seja verdadeiramente conhecida por caçadores coletores. Também estamos cientes de que nossos ancestrais atravessaram muitas guerras, mortandades, massacres, algumas vezes como presas e outras como predadores, e que as sementes da violência e do terror experienciados por eles estão presentes em cada um de nós. Estamos cientes, ainda, da degradação do meio-ambiente e da violência associada ao uso de armas, no presente. Neste contexto, como podemos reconciliar, hoje em dia, a nobre aspiração de viver livremente em contato com a natureza, com respeito pela vida e pela natureza em todos os aspectos, incluindo animais, plantas e minerais? Como podemos transmitir a nossos filhos e descendentes a rica herança que nos foi dada por nossos ancestrais, sem ao mesmo tempo transmitir-lhes todo o sofrimento associado à violência, guerras, mortandades, massacres, que nossos ancestrais atravessaram?
Aqui podemos manifestar nossa visão, nosso projeto:
Propondo, localmente, através das Sanghas laicas locais de Plum Village, em tantos lugares do mundo quanto possíveis, para associações ligadas ao meio-ambiente, à caca, e para associações de fotógrafos amadores, tornarem-se parte de uma campanha que poderia ser chamada: OS CAÇADORES DE IMAGENS
Esquema desta campanha: Competição de fotografia de animais vivendo em seu habitat natural. Serão convidados a participar: - caçadores, familiarizados com os animais e seu meio-ambiente, - fotógrafos amadores, - todos os amantes da natureza. - Um júri pode selecionar fotos baseadas em critérios artísticos e na representação do meio-ambiente e comportamento dos animais. - Tal júri pode ser composto por membros de grupos para conservação do meio-ambiente, associações de caça e fotógrafos profissionais. - Os prêmios incluiriam câmeras e outros equipamentos de alta qualidade, doados por patrocinadores, encorajando os participantes a desenvolver seus talentos. - Um site na internet pode ser criado a fim de compartilhar as fotos e as experiências dos participantes. Nossos objetivos: - Promover a proteção à vida e ao meio-ambiente através da arte e da ciência da fotografia; - Ajudar caçadores e todos os amantes da natureza a reconhecer que compartilham o amor pela natureza e o desejo de conservar e proteger nossa herança comum; - Facilitar a comunicação construtiva e amistosa e o compartilhar de conhecimento entre pessoas (por exemplo, caçadores poderiam compartilhar com os habitantes urbanos seus conhecimentos sobre a floresta; fotógrafos amadores poderiam compartilhar seu conhecimento e paixão pela fotografia; aqueles que amam a vida poderiam compartilhar seu cuidado e respeito à vida em todas as suas formas); - Desenvolver a consciência da importância cultural, histórica e ecológica de proteger e transmitir a nossas crianças espaços naturais livres e protegidos de toda violência. Nota 1: Fotografar animais vivendo livremente na natureza requer grande paciência e concentração, as quais são qualidades de um verdadeiro caçador; também requer humildade e compaixão, que são qualidades de um verdadeiro ser humano. Nota 2: Não se pode empunhar uma arma e uma câmera ao mesmo tempo. Desejamos encorajar nossos irmãos caçadores a trocar suas armas por uma câmera, e regar suas sementes de compaixão, estimulando-os a reconhecer o valor da vida e a curar as feridas da violência em nossa consciência coletiva. Voila, apresentamos assim nossa visão, nosso projeto. Este projeto pode ser traduzido e apresentado a Sanghas ligadas a Plum Village em todo o mundo, como um exercício e proposta de colocar em prática aquilo que chamamos de Budismo Engajado. Tal exercício pretende colocar em prática: - Ética: proteger a vida e o meio-ambiente; - Olhar em profundidade: enxergar a relação de interser entre homens e natureza, entre caçadores e ativistas ecológicos, e entre todos nós, incluindo nossos ancestrais e descendentes; - Discernimento: capacitar-nos a encontrar e utilizar meios hábeis de mover-nos de uma visão correta na direção da ação correta, através do discurso correto. Obrigado por sua resposta e por oferecer-nos sugestões.
Participaram da preparação e várias traduções deste projeto: Kelsang Jampel (USA), David (Canadá), Ricardo (Itália), Robert (Alemanha), Bart e Yuri (Bélgica e México), Karel, Gerard (Holanda), Gerard (Catalunha), Gregorio (Espanha), Marcelo (Brasil), Phap An (França)